No Encontro Anual Nacional do GT ANPOLL Linguagem, Enunciação e Trabalho, realizado na PUC-SP em 10 de dezembro de 2018 por ocasião do 21º Intercâmbio de Pesquisas em Linguística Aplicada, redefiniu-se, entre outras deliberações, o perfil, o título e a linha temática que caracterizam o presente GT.
Tais modificações foram motivadas pela renovação de seus membros e consequentes alterações sofridas nas pesquisas desenvolvidas pelo grupo. Em linhas gerais, manteve-se o interesse pela investigação das relações que se estabelecem entre as práticas linguageiras (ora caracterizadas como discurso) e o trabalho, tema que motivou a criação do GT em 2006, e inseriu-se o debate acerca do paradigma norteador do posicionamento do GT, cujo tratamento implica o conceito de ética. Desse modo, Discurso, Trabalho e Ética passa a ser o título definidor do novo perfil do GT.
Consideramos, ainda, a pertinência de sublinhar alguns aspectos que corroboram o novo perfil do GT:
a) as abordagens das práticas discursivas, entre elas as que se constituem em contextos de trabalho, pelos integrantes do GT Linguagem, enunciação e trabalho, que agora se propõe Discurso, trabalho e ética, não estão desconectadas dos contextos sociohistóricos em que se situam, o que implica enfrentar as dimensões políticas e éticas que dizem respeito não só às relações que são reconhecidas e analisadas nas dinâmicas dos processos linguageiros que se tornam objetos de investigação, mas também considerar as dimensões políticas e éticas implicadas no próprio exercício analítico carregado de valores nas relações estabelecidas entre sujeitos envolvidos nos processos de produzir sentidos sobre as atividades humanas, em especial as atividades de trabalho;
b) as abordagens das atividades humanas, como a linguagem e o trabalho, entre outras, se dá na perspectiva de processos cujas dinâmicas implicam aderir a valores que se (re)configuram permanentemente e que precisam se tornar visíveis, de modo que as subjetivações de todos os envolvidos nas pesquisas se constituam em uma perspectiva crítica, definida por Paulo Freire como “conscientização”, uma perspectiva em que há uma “unidade indissociável entre minha ação e minha reflexão sobre o mundo” (FREIRE, 2016, p. 56):
Num primeiro momento, a realidade não se apresenta aos homens como objeto que a consciência crítica deles pode conhecer. Em outros termos, na aproximação espontânea do homem em relação ao mundo, a posição normal fundamental não é uma posição crítica, mas uma posição ingênua. Nesse âmbito de espontaneidade, o homem, ao aproximar-se da realidade, faz simplesmente a experiência da realidade na qual se encontra, e que ele investiga.
Essa tomada de consciência ainda não é a conscientização – esta constitui o desenvolvimento crítico daquela. Logo, a conscientização implica que se passe da esfera espontânea de apreensão da realidade para uma esfera crítica, na qual a realidade se oferece como objeto cognoscível e na qual o homem assume um posicionamento epistemológico.
Assim, a conscientização é o teste da realidade. Quanto mais nos conscientizamos, mais “desvelamos” a realidade, e mais aprofundamos a essência fenomênica do objeto diante do qual nos encontramos, com o intuito de analisá-lo. Por essa razão, a conscientização não consiste num “estar diante da realidade” assumindo uma posição falsamente intelectual. Ela não pode existir fora da práxis, ou seja, fora do ato “ação-reflexão”. Essa unidade dialética constitui, de maneira permanente, o modo de ser, ou de transformar o mundo, e que é próprio dos homens.
Por essa razão mesma, a conscientização é engajamento histórico. Ela é igualmente consciência histórica: por ser inserção crítica na história, ela implica que os homens assumam o papel de sujeitos que fazem e refazem o mundo. Ela exige que os homens criem a própria existência com o material que a vida lhes oferece… (FREIRE, 2016, p. 56 – 57);
c) há uma tomada de posição do grupo de pesquisadores em relação à percepção da dimensão de suas intervenções nos campos das práticas discursivas e laborais, implicando movimentações nas ordens históricas, políticas, culturais, éticas e ideológicas confrontadas pelos sujeitos das pesquisas.
A segunda alteração materializa-se com a inauguração desta plataforma, que abriga os planos de trabalhos a partir do biênio julho 2018 – julho 2020, além dos projetos atuais dos membros do GT. O percurso histórico e a memória do GT estão preservados aqui.
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